MERCADO DE CAPITAIS REGISTRA PICO ANUAL E AVANÇA NA DIVERSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS  

João Vítor Lopes Cunha
João Vítor Lopes Cunha

O mês de outubro de 2025 marcou um ponto relevante para o mercado de capitais brasileiro, combinando recorde mensal de ofertas com movimentos contrastantes entre os principais instrumentos de captação. Embora o volume total tenha alcançado seu maior patamar no ano, impulsionado sobretudo pelas debêntures e pela crescente adoção das Notas Comerciais, o cenário geral revelou nuances importantes, inclusive uma leve retração em relação ao mesmo período de 2024, conforme apresenta o Boletim de Mercado de Capitais divulgado pela Anbima. Esses fatores reforçam o caráter dinâmico do mercado, que segue reagindo a mudanças macroeconômicas, à evolução regulatória e ao apetite dos investidores. 

Recorde Mensal em Outubro de Ofertas no Mercado de Capitais 

O mercado de capitais brasileiro registrou forte movimentações em outubro, consolidando a tendência de crescimento observada na segunda metade de 2025, com ofertas no valor total de R$ 89,9 bilhões, o maior volume mensal do ano, elevando o acumulado anual para R$ 618,8 bilhões (avanço de aproximadamente R$ 15 bilhões em relação a setembro). No entanto, apesar desse pico, na comparação com o mesmo período de 2024, o mercado de capitais apresentou uma retração de 3,2%.1 

Uma possível causa dessa retração, foi a diminuição em 1,2% do valor total de emissões por meio de debêntures, quando comparada com o mesmo período do ano anterior.2 Porém, esses instrumentos seguem como principal instrumento de captação, respondendo por 66% das emissões de outubro de 2025, com R$ 59,4 bilhões.3 O prazo médio das debêntures alcançou 8 anos e a maior parte dos recursos captados foram destinados para investimentos em infraestrutura (36,1%) e pagamento de dívidas (27,2%), reforçando a função do mercado de capitais como alternativa eficiente para o refinanciamento em cenários de maior restrição ao crédito bancário.4  

Dentro dos montantes apresentados, as debêntures incentivadas representaram R$ 19,7 bilhões (33,2%), refletindo o forte interesse dos investidores por ativos com benefícios fiscais. Os fundos de investimento mantiveram a liderança nas subscrições de debêntures corporativas, com participação de 50,3%, seguidos pelos intermediários e demais participantes ligados às ofertas, responsáveis por 42,2%. No segmento de debêntures incentivadas, os intermediários detiveram a maior parte das emissões, com 43,1%, evidenciando sua atuação relevante nesse mercado.5 

Além disso, apesar das pequenas retrações no mercado em geral, nota-se um movimento visível desde 2022, na qual as Notas Comerciais têm se consolidado como instrumento ágil e menos burocrático para empresas que buscam acessar o mercado, registrando desempenho significativo. Em 2025, as emissões de Notas Comerciais já apresentaram o valor total de R$ 42,5 bilhões, com emissões de R$ 3,3 bilhões em outubro,6 apresentando uma expansão de 13% em comparação com os 10 primeiros meses de 2024.7   

Crescimento dos Instrumentos de Securitização 

Os instrumentos de securitização mantiveram desempenho relevante em outubro, reforçando seu papel como fontes importantes de captação de recursos no mercado de capitais. No mês, as emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) totalizaram R$ 6,1 bilhões, dos quais R$ 2,6 bilhões corresponderam aos CRIs e R$ 3,5 bilhões aos CRAs (estes últimos se destacando como o quarto maior instrumento de captação do período).8  

A distribuição entre investidores evidencia dinâmicas distintas entre os dois segmentos. Nos CRAs, os intermediários e demais participantes ligados às ofertas foram os principais subscritores, com participação de 68,7%. Já nos CRIs, os fundos de investimento lideraram as subscrições, respondendo por 60% do volume emitido.9 No acumulado dos dez primeiros meses do ano, os dois instrumentos seguiram trajetórias opostas em relação ao mesmo período de 2024. Os CRIs totalizaram R$ 37,2 bilhões em 2025, registrando retração de 27%, enquanto os CRAs atingiram R$ 32,9 bilhões, apresentando expansão de 3,6%.10 

As Cédulas de Produto Rural Financeira (CPR-Fs) registraram emissões pelo terceiro mês consecutivo, totalizando R$ 4,3 bilhões em 2025.11 Além disso, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios também atingiram um patamar inédito para o período, com o levantamento do valor de R$ 71,2 bilhões (20,3% acima do registrado nos primeiros dez meses de 2024), encerrando outubro com o volume de R$ 9,9 bilhões.12 

A Dinâmica dos Fundos de Investimento 

A captação líquida dos fundos de investimento somou R$ 13,9 bilhões em outubro, contribuindo para um acumulado positivo de R$ 165,8 bilhões no ano. Assim como evidenciado no boletim e no anexo, o resultado mensal representou uma desaceleração relevante frente a setembro, mas manteve o setor em trajetória de recuperação. A renda fixa permaneceu como protagonista (uma vez que os fundos de renda fixa continuam se favorecendo do patamar elevado da taxa de juros brasileira, atualmente no nível mais alto em quase duas décadas), respondendo por R$ 18,7 bilhões do total, seguida pelos multimercados, com R$ 1,5 bilhão, e pelos Fundos de Investimentos em Participações (FIPs), que adicionaram R$ 1,1 bilhão em novos recursos.13 

Dentro da renda fixa, o tipo Duração Livre Crédito Livre voltou a liderar com folga, registrando captação de R$ 19 bilhões no mês e acumulando R$ 130,9 bilhões no ano (maior volume entre os Fundos de Investimento Financeiro – FIFs). O tipo Duração Baixa Grau de Investimento, apesar do forte ingresso mensal de R$ 9,6 bilhões, ainda apresenta resgates acumulados de R$ 34,3 bilhões. Por outro lado, as maiores perdas da classe em outubro vieram da Renda Fixa Simples, com saídas de R$ 12,1 bilhões, e do Duração Baixa Soberano, que perdeu R$ 7,9 bilhões.14 Esse movimento reflete a dinâmica atual do mercado e está em linha com a avaliação de Pedro Rudge, diretor da Anbima. Segundo ele, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a Selic elevada continua favorecendo a estratégia conservadora dos fundos de renda fixa. Ao mesmo tempo, Rudge destaca que a percepção de que o ciclo de alta dos juros chegou ao fim e de que cortes podem estar mais próximos estimulam a recuperação de fundos mais arrojados, como os multimercados.15 

 Nos multimercados, o cenário também mostrou nuances importantes, conforme já adiantado por Pedro Rudge: o tipo Investimentos no Exterior registrou entrada líquida de R$ 3,4 bilhões em outubro e acumula R$ 29,8 bilhões no ano. Já o multimercado Livre voltou a registrar saídas, com resgates de R$ 2,5 bilhões e perda acumulada de R$ 46,9 bilhões em 2025. Na classe de ações, o tipo Ações Livre apresentou resgate líquido de R$ 900,3 milhões e acumula saída de R$ 21,5 bilhões no ano, enquanto Ações no Exterior manteve leve saída mensal de R$ 220 milhões, embora registre saldo anual positivo de R$ 20,2 bilhões.16 

Entre os fundos estruturados, os FIDCs tiveram retirada líquida de R$ 2 bilhões, com destaque negativo para o tipo Agro, Indústria e Comércio, que perdeu R$ 2,4 bilhões e contribuiu para o total anual ainda positivo de R$ 59,2 bilhões. Os FIPs, por sua vez, mantiveram trajetória ascendente, com entrada de R$ 1,1 bilhão no mês e R$ 51,1 bilhões no acumulado do ano. Em termos de rentabilidade, os Duração Livre Crédito Livre e Duração Baixa Grau de Investimento registraram ganhos de 0,72% e 1,25%, respectivamente — ambos próximos de 12% no ano. Entre os multimercados, os tipos Investimentos no Exterior e Livre apresentaram variações de 1,13% e 1,10%. Já na renda variável, o destaque ficou com o tipo Ações Livre, que rendeu 1,68% no mês e acumula alta expressiva de 26,72% no ano, sinalizando melhora gradual no apetite ao risco.17 

Conclusão 

O conjunto de dados de outubro revela um mercado de capitais que, apesar de alguns sinais de desaceleração pontual, mantém trajetória de amadurecimento e diversificação. O recorde mensal de ofertas, somado ao fortalecimento de instrumentos como as Notas Comerciais e à resiliência de segmentos de securitização, reforça a importância crescente do mercado como alternativa para financiamento corporativo, sobretudo em um ambiente de crédito bancário ainda seletivo. Paralelamente, a movimentação dos fundos de investimento evidencia ajustes naturais diante das expectativas de política monetária, com recomposição gradual do apetite ao risco. 

Em um momento em que o cenário macroeconômico sinaliza possível mudança no ciclo de juros, os investidores e emissores demonstram disposição para buscar maior eficiência na alocação de capital. A combinação entre inovação, variedade de instrumentos e participação ativa de diversos perfis de investidores sugere que o mercado de capitais continuará exercendo papel central no financiamento da economia brasileira. O desempenho de outubro, portanto, não apenas consolida tendências recentes, mas também aponta para um ambiente mais robusto e preparado para os desafios de 2026. 

 Referências

1 MERCADO DE CAPITAIS REGISTRA EM OUTUBRO MAIOR VOLUME MENSAL DE OFERTAS NO ANO. Anbima, 2025. Disponível em: <https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/mercado-de-capitais-registra-em-outubro-maior-volume-mensal-de-ofertas-no-ano.htm>. Acesso em: 18 de novembro de 2025. 

2 Ibidem. 

3 OUTUBRO REGISTRA NOVO AVANÇO NAS EMISSÕES E CONSOLIDA DEIVERSIFAÇÃO DOS INSTRUMENTOS NO MERCADO DE CAPITAIS. Anbima Data, 2025. Disponível em: <https://data.anbima.com.br/publicacoes/boletim-de-mercado-de-capitais/outubro-registra-novo-avanco-nas-emissoes-e-consolida-diversificacao-dos-instrumentos-no-mercado-de-capitais?_ga=2.100985793.1164846647.1763485737-1965143781.1763485737>. Acesso em: 18 de novembro de 2025. 

4 MERCADO DE CAPITAIS REGISTRA EM OUTUBRO MAIOR VOLUME MENSAL DE OFERTAS NO ANOOp. Cit. 

5 OUTUBRO REGISTRA NOVO AVANÇO NAS EMISSÕES E CONSOLIDA DEIVERSIFAÇÃO DOS INSTRUMENTOS NO MERCADO DE CAPITAIS, Op. Cit. 

6 Ibidem. 

7 MERCADO DE CAPITAIS REGISTRA EM OUTUBRO MAIOR VOLUME MENSAL DE OFERTAS NO ANO, Op. Cit. 

8 OUTUBRO REGISTRA NOVO AVANÇO NAS EMISSÕES E CONSOLIDA DEIVERSIFAÇÃO DOS INSTRUMENTOS NO MERCADO DE CAPITAIS, Op. Cit. 

9 Ibidem. 

10 MERCADO DE CAPITAIS REGISTRA EM OUTUBRO MAIOR VOLUME MENSAL DE OFERTAS NO ANO, Op. Cit. 

11 Ibidem. 

12 OUTUBRO REGISTRA NOVO AVANÇO NAS EMISSÕES E CONSOLIDA DEIVERSIFAÇÃO DOS INSTRUMENTOS NO MERCADO DE CAPITAIS, Op. Cit. 

13 FUNDOS DE INVESTIMENTO REGISTRAM CAPTAÇÃO LÍQUIDA DE R$ 13,9 BILHÕES EM OUTUBRO. Anbima, 2025. Disponível em: <https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/relatorios/fundos-de-investimento/boletim-de-fundos-de-investimentos/fundos-de-investimento-registram-captacao-liquida-de-r-13-9-bilhoes-em-outubro.htm>. Acesso em: 18 de novembro de 2025. 

14 Ibidem. 

15 FUNDOS DE INVESTIMENTO TÊM CAPTAÇÃO LÍQUIDA POSITIVA DE R$ 13,9 BILHÕES E, OUTUBRO. Anbima, 2025. Disponível em: <https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/fundos-de-investimento-tem-captacao-liquida-positiva-de-r-13-9-bilhoes-em-outubro.htm>. Acesso em: 18 de novembro de 2025. 

16 FUNDOS DE INVESTIMENTO REGISTRAM CAPTAÇÃO LÍQUIDA DE R$ 13,9 BILHÕES EM OUTUBRO, Op. Cit. 

17 Ibidem. 

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João Vitor Lopes Cunha

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